sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Coxinhas x Petralhas



Você é de esquerda ou de direita? Você sabe dizer qual a diferença entre um ou outro lado da política? E os partidos? Você sabe onde está cada um deles no espectro ideológico?
Pra tentar ajudar a esclarecer alguns pontos da diferenciação entre esquerda e direita e para explicar os critérios que serão utilizados aqui neste blog, resolvi fazer esse texto explicativo.

Origem
A primeira vez que os termos esquerda e direita foram utilizados para diferenciar duas posições políticas divergentes foi durante a Revolução Francesa, ainda no século XVIII.  Durante a Assembleia Nacional da Revolução (Assembleia Constituinte de 1791), Girondinos, sentados à direita, representavam os revolucionários mais moderados. Sentados à esquerda ficaram os Jacobinos, representando uma ruptura mais radical da estrutura aristocrática.
Depois de Marx, no século XIX, a diferenciação esquerda e direita se deu predominantemente entre marxistas (à esquerda) e liberais (à direita). E quando se pensa em marxismo (e suas derivações: trotskismo, keynesianismo, socialdemocracia, etc.) e liberalismo, o que é sempre discutido é o grau de intervenção do Estado na Economia. Enquanto os liberais, à direita, defendem o livre mercado como melhor forma de desenvolvimento, marxistas, à esquerda, consideram que o Estado é quem deve ser o promotor do desenvolvimento.
Aqui, cabe ressaltar um conceito fundamental para os liberais: “meritocracia”! Para liberais, tem mais quem merece mais, e o Estado deve apenas garantir que as pessoas tenham igualdade de condições para poder ascender socialmente. Se o Estado intervém, não há meritocracia, distorcendo a desigualdade que seria justa e meritocrática.
Já marxistas, no geral, consideram que o Estado não pode tratar desiguais de forma igual. Se há desigualdade na sociedade, o Estado deve intervir para reduzir as desigualdades e as injustiças sociais.
Porém, a economia não é a única forma possível de diferenciação de ideias. O próprio liberalismo nasceu promovendo tanto o liberalismo econômico quanto o liberalismo social.

Individuo x sociedade
Liberdades individuais são temas bem controversos.  O Estado pode intervir na vida pessoal das pessoas? O Estado pode definir o que pode ou não ser feito em temas relacionados a sexo ou consumo de drogas, por exemplo?
Hoje, uma pessoa no Brasil tem algumas restrições em relação a determinados assuntos. Apenas o consumo de álcool e tabaco são aceitáveis entre tantas outras drogas existentes. Os jogos de azar, com exceção das loterias federais, também não são permitidas. E há ainda outros temas como religião, sexo, gênero e raça que levantam discussão se há ou não liberdade no campo social.
Entre as várias denominações usadas, a mais comum é a diferenciação entre progressistas x conservadores. Os conservadores querem manter a situação como está, posicionando-se contra mudanças na sociedade, seja ela qualquer liberalização das drogas ou maior direitos aos homossexuais, por exemplo. Já progressistas defendem mudanças na estrutura da sociedade e se posicionam ao lado das minorias, seja índios, negros, mulheres ou a LGBTs.

Um espectro, duas dimensões
Os intelectuais marxistas, que sempre predominaram no campo cultural frente aos liberais, costumaram relacionar marxismo com progressismo, mas será que não existem marxistas conservadores? E liberais progressistas? E os partidos no Brasil? Como se posicionam frente a essas duas dimensões?
No geral, os partidos de orientação marxista têm se posicionado mais a favor das pautas progressistas, seja ela o casamento homossexual ou até a desmilitarização das polícias que os demais partidos. No entanto, há sim marxistas conservadores assim como liberais progressistas ou mesmo marxistas ricos e liberais pobres. Não há necessariamente nenhuma contradição. Por causa disso, tentarei evitar neste blog usar os termos esquerda x direita, que explicam pouco. Do mesmo modo, as duas dimensões apresentadas acima não tratam de alguns temas como meio ambiente, por exemplo. Há lacunas na diferenciação entre os dois lados da política, mas se os termos serão evitados, já adianto que não serão descartados.

Classificações existentes
Na Ciência Política, a classificação[1] predominante dos partidos é:
Direita: PP; DEM; PR; PTB; PSD; PSC; PRB
Centro: PMDB e PSDB
Esquerda: PT; PDT; PPS; PCdoB; PSB; PV; Psol
Outra classificação, não dos partidos, mas da sociedade, pode ser feita através da leitura dos textos dos últimos anos do cientista política André Singer. Segundo Singer, foi o PT quem organizou a estrutura partidária brasileira desde o fim dos anos 80 e, por isso, pode-se fazer um continuum desde os maiores apoiadores ao governo do PT (mais pobres) até os mais oposionistas (mais ricos). Esse continuum, também identificado pelo filósofo Marcos Nobre, pode ser visto no quadro[2]:


Classificação deste blog
Apesar das diferenciações entre esquerda e direita existentes, não acredito que elas posicionem corretamente os partidos políticos no espectro ideológico. Não vejo sentido hoje em considerar PMDB e PSDB como centro nem PV como esquerda. Por causa disso, neste blog utilizarei a seguinte classificação:
Esquerda: Psol
Centro esquerda: PT; PCdoB ; PDT; PSB; PPS
Centro: PV
Centro direita: PSDB; PMDB; PTB
Direita: PSD; PR; DEM; PP; PSC; PRB
Cabe destacar que PSC e PRB se diferenciam e muito dos demais partidos de direita por ambos terem uma íntima conexão com igrejas. Ou seja, são partidos que representam o cristianismo conservador. O PV, por sua vez, foi posicionado ao centro. Já os novos partidos (Solidariedade, Pros, Rede Sustentabilidade e Partido da Mulher Brasileira) eu preferi não posicioná-los ainda. Acho melhor esperar as cenas do próximo capítulo pra ver qual o real posicionamento deles!
O que temos que levar em conta é que os partidos políticos são diferentes uns dos outros e têm posições divergentes sobre determinados assuntos. Do mesmo modo, tanto liberalismo quanto marxismo desejam algum tipo de desenvolvimento, mas por caminhos totalmente diferentes. Estes caminhos podem parecer indecifráveis no emaranhado de notícias do dia a dia, mas são eles que acabam regendo o embate político na sociedade.


[1] Versão atualizada de: CARREIRÃO, Ivan de Souza, Ideologia e partidos políticos: um estudo sobre coligações em Santa Catarina. Revista Opinião Pública vol 12 nº1 Campinas, Abril e Maio 2006.
[2] O quadro não aparece em nenhum texto dos autores citados. Ele é de formulação própria a partir da leitura destes autores, e não é improvável que os autores citados discordem dele.

Um comentário:

  1. http://infograficos.oglobo.globo.com/brasil/partido-do-voce-nao-me-representa.html
    e
    http://blogs.oglobo.globo.com/na-base-dos-dados/post/maioria-dos-partidos-se-posiciona-como-de-centro-veja-quem-sobra-no-campo-da-direita-e-da-esquerda.html

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